O QUE VOCÊ NÃO SUPORTA NO OUTRO?

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“Cada vez que você julga alguém, revela uma parte sua que precisa de cura.” Autor desconhecido.

A projeção é um dos mecanismos de defesa que bloqueia o ciclo de contato e nos impede de ter uma boa troca e uma interação plena com o ambiente. O projetor rejeita aspectos de si mesmo, pois está tão embebido de suas introjeções (crenças e valores não assimilados, seguidos como dogmas) que negam seus próprios sentimentos e ações considerando que “não deveria” agir ou pensar de tal forma. Assim, atribui aquilo que originalmente é seu ao outro/mundo, as características similares ao conteúdo que evita em si são facilmente reconhecidas e evidenciadas através da depreciação.

Julgamentos e discursos de ódio carregados de um nível de intensidade emocional elevado (mágoa, raiva, desprezo) são indicativos de projeções. Essa forma de se comunicar nos afasta da nossa capacidade de sentir compaixão, pois caracteriza aquilo que não corresponda aos nossos valores como advindos de uma natureza errada ou maligna. Ao fazer uso de julgamentos moralizantes em nosso cotidiano, nos prendemos em um mundo de ideias de certo e errado que classificam e dicotomizam as pessoas e seus atos, ao invés de nos concentrarmos no que, tanto nós quanto os outros, necessitamos e não estamos obtendo.

As análises que fazemos das pessoas dentro dessa lógica são expressões trágicas de nossas “próprias” convicções, pois reforçam uma postura defensiva e a resistência das pessoas cujos comportamentos nos interessam. Se as pessoas concordam em agir de acordo com nossos valores, o fazem por culpa, vergonha ou medo, se submetem ao que acreditamos através da coerção e podem ter seu senso de identidade pessoal e autoestima severamente prejudicados, além do ressentimento que poderá emergir reduzindo a probabilidade de agirem compassivamente às nossas necessidades no futuro.

Os preconceitos servem para perpetuar uma visão deturpada sobre tudo na sociedade. Classificar e julgar pessoas estimula a violência, é adoecedor e promove segregação. Devemos tentar identificar quais introjeções nossa projeção está tentando esconder e questioná-las, assim poderemos nos conectar profundamente com as nossas reais necessidades e com as dos outros.

TUDO TEM QUE SER PERFEITO? PERFEITO PARA QUEM?

Enquanto vivermos na lógica da perfeição, todo erro será inaceitável e toda característica que fuja dos ideais estéticos socialmente aceitos será motivo de vergonha e inadequação. Vivemos hoje uma sociedade do consumo e da competitividade, que estimula o egoísmo, focaliza a individualidade e exige de nós um desempenho impecável em todas as áreas da vida, assim sendo, “temos que” apresentar ao mundo uma excelência profissional, estar saudáveis psicologicamente, ter inteligência emocional, manter o corpo “em forma”, estabelecer e manter relações interpessoais de qualidade.

A modernidade líquida em que vivemos, onde as relações estão cada vez mais descartáveis, considera que sempre haverá alguém para tomar o nosso lugar caso não nos “esforcemos o suficiente”, seja no trabalho, no papo com os amigos ou no relacionamento amoroso. Com isso, nos construímos com base na ideia de que estamos sendo constantemente avaliados e que não podemos falhar pois, caso isso ocorra, seremos rapidamente substituídos.

QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DISSO?

Nesse processo, acabamos também embebidos pela lógica dos julgamentos e passamos a observar os outros por aquilo que produzem, pelo desempenho apresentado e a ser intolerantes com os seus defeitos, desconsiderando sua subjetividade.

Em contraponto, por vezes, as nossas características que não consideramos adequadas às exigências impostas são negadas, omitidas, negligenciadas ou suprimidas. Dois caminhos: Entramos em um processo de autoculpabilização, que nos faz querer aniquilar tudo aquilo em nós que nos afasta da “perfeição” ou entramos em negação profunda de tais características em nós e passamos a agir como se não existissem, apontando-as nos outros de maneira vexatória e incoveniente.

Dessa forma, travamos uma luta interna que piora ainda mais nossa situação, pois quanto mais tentamos suprimir aquilo, mais intenso se torna. Uma vez que não somos como gostaríamos de ser e temos que ser alguém que não somos, nos refugiamos em elevados e inatingíveis ideais, não nos permitimos errar, ser diferente ou nos nutrir do que é nosso. Passamos a viver de aparências, e quanto mais nos perdemos na busca pela perfeição, mais nos desconectamos de nós e do nosso desejo real.

Respeite sua condição existencial e seus sentimentos, aprenda a amar e aceitar o que há de mais verdadeiro em você!

Lara Monteiro Moreira (@laramonteiro.psi)

Gestalt-terapeuta | Psicóloga Clínica

CRP 04/58488

Psicóloga, gestalt-terapeuta, pós graduada em avaliação psicológica e neuropsicologia clínica, mãe da Luna, cantora, apaixonada por instrumentos musicais, amante de séries e livros.