Por menos retornos, por mais coisas novas

Eu li o texto do Gregório, eu já sabia que ele e Clarice estariam juntos em um filme, porque sou seguidora de ambos no facebook, o texto, que é claramente uma referência ao filme, tem o título do filme, e que fala da relação dos dois mexeu comigo, mas não por que sou shipper e quero que os dois voltem, mas porque mostrou uma admiração e um carinho que são raros de se ver hoje em dia quando o assunto é “ex”.

Eu vivi quatro anos em um relacionamento, hora bom, hora ruim, foi o único namoro real que tive em toda a minha vida, e que me deixou até hoje com muito medo de namorar de novo. Nós eramos amigos, a gente se amou sim, e muito, mas acabou. Os comentários de “Clarice, volta pro Gregório” me incomodaram, não porque eu saiba de algo que ele fez a ela, porque de verdade, não faço a menor ideia do motivo do término deles, e nem me interessa, mas porque eu enxerguei minha história quando ainda ouço: “ah, mas um dia vocês ainda voltam”, “amor assim não acaba fácil”, “ah, eu torço pra vocês voltarem um dia”. Se terminou há um motivo, e eu tive muitos, eu não podia decidir nada sobre mim, aonde ia, se ia correr só pra ganhar medalhas, se iria fazer uma pós graduação, se iria dormir mais cedo porque estava cansada, se não iria acompanhar uma noite de bebedeira, se queria postar fotos ou um fazer book com cara sensual demais, porque demonstrava certa vulgaridade, se teria ou não minha própria opinião sobre assuntos políticos, entre outros. Clarice deve ter tido os dela também, e ninguém tem o direito de desejar, querer, opinar sobre o que deve ou não acontecer na vida de outra pessoa.

Tal qual Clarice, também recebi declarações de amor “póstumas”, aparições e mensagens inesperadas (no caso dela, por conta do filme, nem foi tão inesperado assim) e não vou mentir, eu já quis muito voltar, mas eu soube que já não queria mais quando senti amor por outra pessoa, e principalmente quando senti novamente amor por mim. No último ano rolaram coisas em relação ao ex que bagunçaram a minha vida em diversos momentos, e causaram confusões, mesmo com a certeza plena de que eu não queria mais essa pessoa do meu lado, mesmo com a certeza de que eu tomei a melhor decisão da minha vida ao terminar.

Eu gostei do texto do Gregório, inclusive porque me lembrou outra pessoa, e não o meu ex. As vezes algumas pessoas surgem em nossas vidas, e modificam ela todinha, mesmo sem fazer nada. Eu tive um “amor a primeira conversa”, me apaixonei de cara cerca de 2 meses depois de terminar o meu namoro. E foi nesse relacionamento que eu aprendi a me amar, por mais contraditório que pareça. Eu estava perdida, ainda me achando a pessoa mais feia, mais burra, trocada, abandonada, e tentando encontrar razões para o fim do relacionamento (porque podem confessar, ninguém sai definitivamente de uma relação e sabe que o ex tá com outra e fica super bem, linda e feliz). Encontrar essa pessoa que ao contrário do ex me deu apoio nos projetos, me incentivou a seguir em frente, me fez olhar para mim, e disse que eu era uma lista de coisas boas que eu realmente não achava que era, entre elas corajosa, foi realmente transformador.

Eu desejo do fundo do coração, que todas as mulheres aprendam a se amar, aprendam seu valor de um jeito diferente, que se descubram sozinhas, porque elas são sim maravilhosas, talentosas, capazes, desejo que não precisem de um homem para dizer isso para que elas acreditem, eu precisei, e por isso também sou muito grata e admiro muito essa pessoa, apesar dos contratempos e de estarmos cada um para um lado agora.

De herança ficou a certeza de que eu era boa o suficiente para fazer qualquer coisa sozinha, eu precisei de alguém me avisar que eu precisava olhar para mim, para tudo o que eu representava, para tudo que eu fazia, e as vezes eu acho que ele mesmo nem faz ideia da importância que teve na minha libertação das podas que o meu antigo relacionamento fez na minha personalidade. Esse “novo amor” me lembrou muito uma música da Beyonce  ♫I’m more than what, you made of me I followed the voice you gave to me But now I’ve gotta find, my own♪ (Eu sou mais do que você fez de mim, eu segui a voz que você me deu mas agora eu tenho que encontrar a minha própria voz) porque de certa forma foi o que aconteceu.

Hoje eu me sinto bem sozinha, me redescubro a cada dia, crio, me reinvento, e não torço por retornos, nem meus, muito menos de famosos, nem de coisa alguma. Que a vida seja feita sempre de coisas novas, que as pessoas sigam sempre em frente, abandonando o passado, que a vida nos presenteie sempre com novos encontros, novos amores, novas vidas, novas histórias, para serem vividas em carreira solo, para ter companhia, enfim, que seja da forma mais intensa e feliz possível. Ainda que por ventura, você acabe reencontrando alguém, que saiba criar uma história nova, deixando tudo o que passou pra trás.

Lívia Monteiro é escritora, produtora de eventos, especialista em gestão cultural e MBA em Gestão de Projetos com aprofundamentos em Dragon Dreaming, Facilitação de processos e Otimização do tempo. Adora falar sobre moda, filmes/séries, livros e viagens. Atualmente está em processo de criação de um novo projeto de autoconhecimento e crescimento com a AmaiLuz Terapias e atua como analista de Marketing Digital e blogueira Modacad.